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Modos gregos

08:27Isac Augusto

 

Modos gregos


Modos gregos sĂŁo tipos de escalas. Talvez vocĂȘ jĂĄ tenha ouvido por aĂ­ os nomes “mixolĂ­dio”, “dĂłrico”, ou algo semelhante. Parece coisa de outro mundo, nĂŁo? Pois bem, mostraremos que esses e outros nomes sĂŁo, na realidade, assuntos muito simples e fĂĄceis de se entender e praticar. Eles aparecem no contexto de modos gregos. 


 

Mas o que sĂŁo os modos gregos afinal?!

Os modos gregos nada mais sĂŁo do que 7 modelos diferentes para a escala maior natural. Vamos detalhar para ficar mais claro:
Pegue a escala maior natural. Ela corresponde ao primeiro modo grego, o chamado modo JĂŽnico (ou JĂŽnio). Essa nomenclatura nĂłs mostraremos mais adiante de onde veio, nĂŁo se preocupe com isso agora.
Muito bem, vocĂȘ jĂĄ sabe um modo grego! Meus parabĂ©ns!!

Modo JĂŽnico

Para ficar mais fĂĄcil, vamos trabalhar em cima da escala de dĂł maior como exemplo. JĂĄ sabemos entĂŁo qual Ă© o modo JĂŽnico:
C, D, E, F, G, A, B
SequĂȘncia observada: tom-tom-semitom-tom-tom-tom-semitom


Desenho do modo jĂŽnico:

jonico

Dica: É a própria escala maior.
*Obs: Para todos os modos, colocaremos a sequĂȘncia observada, uma dica e o desenho da escala.

O próximo modo é o chamado modo Dórico. Ele nada mais é do que a mesma escala maior que estamos trabalhando, porém começando da nota Ré.

Modo DĂłrico


Segue abaixo o modo dĂłrico:
D, E, F, G, A, B, C
SequĂȘncia observada: tom-semitom-tom-tom-tom-semitom-tom

Desenho do modo dĂłrico:

dorico


Dica: É a escala menor com a sexta maior.

Bom, talvez vocĂȘ ainda nĂŁo tenha reparado a utilidade disso. Geralmente aqui a galera começa a se atrapalhar e achar um tĂ©dio esse estudo. Pois bem, vamos explicar direito isso para que vocĂȘ nĂŁo desista sem motivo!

NĂłs acabamos de tocar RĂ© dĂłrico, certo? Isso automaticamente significa que a tonalidade Ă© DĂł maior. Por quĂȘ? Justamente por que nĂłs construĂ­mos a escala dĂłrica utilizando as notas da escala maior de DĂł. O formato tom-semitom, etc. deduzido para a escala dĂłrica ficou diferente da escala maior natural pelo fato de estarmos começando com outra nota que nĂŁo o primeiro grau. Começamos do segundo grau. Por isso que hĂĄ diferença no desenho. Entendido isso, podemos encontrar uma aplicação prĂĄtica.

No estudo de campo harmĂŽnico maior, mostramos os acordes que fazem parte da tonalidade de DĂł maior. Imagine, por exemplo, que uma mĂșsica começa em RĂ© menor e depois continua com os acordes: Am, F e Em. Podemos concluir que a tonalidade dessa mĂșsica Ă© DĂł maior, mesmo que o acorde de DĂł nĂŁo tenha aparecido nenhuma vez na mĂșsica (atĂ© aqui, nenhum conceito novo!). EntĂŁo, se queremos improvisar um solo em cima dessa mĂșsica, utilizaremos a escala de DĂł maior. Mas, como a mĂșsica começa em RĂ© menor, nosso solo poderia começar com a nota RĂ© em vez da nota DĂł para dar uma ambiĂȘncia mais caracterĂ­stica, certo? É aqui que entra o tal do RĂ© dĂłrico! Podemos dizer que estamos solando em RĂ©, pois estamos “enfatizando” a nota RĂ© (começando e terminando com ela), mas usando a escala de DĂł maior. Moral da histĂłria: estamos usando para o nosso solo a escala de RĂ© DĂłrico, pois o acorde Ă© RĂ© menor mas a tonalidade Ă© DĂł.

Modo frĂ­gio


Ok, vamos prosseguir. Agora vamos usar a escala maior de DĂł começando da nota Mi. A sequĂȘncia ficarĂĄ assim:
E, F, G, A, B, C, D
SequĂȘncia observada: semitom-tom-tom-tom-semitom-tom-tom

Desenho:

modo frigio

Dica: É a escala menor com o segundo grau menor.
Esse Ă© chamado modo FrĂ­gio. A utilização prĂĄtica Ă© exatamente a mesma do exemplo anterior, mas pensando em Mi menor em vez de RĂ© menor. Se quisĂ©ssemos solar em Mi menor uma mĂșsica que estivesse com a tonalidade de DĂł maior, utilizarĂ­amos a escala de Mi FrĂ­gio.

Modo lĂ­dio


O próximo modo grego é o modo Lídio. Ele começa com o quarto grau da escala maior. Apenas para recapitular, estamos utilizando como exemplo a escala de Dó, então o quarto grau é Få (antes o terceiro grau era Mi, e assim por diante). Os modos gregos podem ser construídos a partir de qualquer escala maior, estamos mostrando aqui somente a escala de Dó. Depois mostraremos em cima de outra escala maior para ajudar a esclarecer. Vamos ver então como ficou nossa escala de Få Lídio:

F, G, A, B, C, D, E
SequĂȘncia observada: tom-tom-tom-semitom-tom-tom-semitom

Desenho do modo lĂ­dio:

lidio

Dica: Ă‰ a escala maior com a 4ÂȘ aumentada

Modo mixolĂ­dio


O quinto modo grego Ă© o modo MixolĂ­dio. Na escala de DĂł maior, o quinto grau Ă© Sol. Veja abaixo entĂŁo a escala de Sol mixolĂ­dio:

G, A, B, C, D, E, F
SequĂȘncia observada: tom-tom-semitom-tom-tom-semitom-tom

Desenho do modo mixolĂ­dio:

mixolidio

Dica: Ă‰ a escala maior com a 7ÂȘ menor

NĂłs jĂĄ explicamos a utilização dos modos gregos do ponto de vista de improviso, mas seria interessante aproveitar esse momento aqui para fazer uma observação. Se quisĂ©ssemos solar uma mĂșsica que estĂĄ na tonalidade de DĂł maior começando com a nota Sol, utilizarĂ­amos a escala de Sol MixolĂ­dio (atĂ© aqui nenhuma novidade). Talvez vocĂȘ ainda nĂŁo tenha se convencido da utilidade disso na prĂĄtica pois estĂĄ pensando: “se eu quiser usar a escala maior de DĂł começando com a nota Sol, eu pego o desenho de DĂł maior, na regiĂŁo em que eu faria a escala de DĂł maior, e faço esse desenho começando da nota Sol:

utilidade modos gregos

Tudo bem, nĂŁo hĂĄ problema nisso. Mas digamos que uma mĂșsica estivesse mudando de tonalidade. Imagine que estava em Sol Maior e agora passou a ser DĂł maior. VocĂȘ estava solando em sol maior utilizando a escala abaixo, nessa regiĂŁo do braço do instrumento:

aplicando modos gregos

Agora que a mĂșsica passou a ser em DĂł maior, vocĂȘ pulou para essa regiĂŁo:

aprender modos gregos

Se vocĂȘ soubesse o desenho de Sol MixolĂ­dio, poderia continuar na mesma regiĂŁo que estava antes, porĂ©m mudando o desenho que antes era esse:

modo grego

Para esse:

novo modo grego

Isso deixaria o solo infinitamente mais bonito e fluido, pois a mudança de tonalidade no solo seria muito suave e agradĂĄvel. Se, nesse exemplo, vocĂȘ mudar a regiĂŁo do braço para pensar na escala de DĂł maior, vocĂȘ farĂĄ essa mudança de tonalidade ficar muito mais brusca e dura de engolir.

Ouça mĂșsicos como Pat Matheny, Mike Stern, Frank Gambale e observe como eles trabalham as modulaçÔes (mudanças de tonalidade). Essa fluidez vĂȘm do domĂ­nio completo dos desenhos dos modos gregos.

AlĂ©m disso, conhecer bem os desenhos desses modos ajudarĂĄ vocĂȘ a nĂŁo se prender a um desenho de escala somente, o que faria seu solo ficar “quadrado” e viciado. De quebra, esse domĂ­nio propicia um controle total do braço do instrumento.

Modo EĂłlico


Ok, o prĂłximo modo Ă© o modo EĂłlico (ou eĂłlio) e corresponde ao sexto grau. No nosso exemplo, o sexto grau de DĂł Ă© LĂĄ, entĂŁo confira abaixo como ficou a escala:
A, B, C, D, E, F, G
SequĂȘncia observada: tom-semitom-tom-tom-semitom-tom-tom
Desenho do modo eĂłlico:

eolico

Dica: É a escala menor natural!

Encontramos então um novo nome para a escala menor natural: Modo Eólico. A escala maior natural jå tinha recebido um nome também, lembra? Modo jÎnico.

VocĂȘ deve ter reparado que o sexto grau menor Ă© a relativa menor (jĂĄ estudamos isso), entĂŁo fazer um solo utilizando o modo eĂłlio nada mais Ă© do que solar uma mĂșsica usando a relativa menor.

Modo lĂłcrio

O sĂ©timo e Ășltimo modo Ă© o modo LĂłcrio. Confira abaixo o desenho:
B, C, D, E, F, G, A
SequĂȘncia observada: semitom-tom-tom-semitom-tom-tom-tom


Desenho do modo lĂłcrio:

locrio

Dica: Ă‰ a escala menor com a 2ÂȘ menor e 5ÂȘ diminuta.
Treinar os modos gregos pensando nos graus ajuda muito nossa mente e nosso ouvido a identificar rapidamente a tonalidade de uma mĂșsica, pois vocĂȘ se acostuma com os padrĂ”es.

Resumo dos 7 modos gregos


Legal, jĂĄ que fizemos tudo em cima da escala de DĂł maior, vamos agora rapidamente mostrar como ficariam as sequĂȘncias utilizando a escala de Sol maior (em vez de DĂł maior), para vocĂȘ observar os shapes desses modos começando da 6ÂȘ corda:

modos gregos

resumo dos modos gregos

shape dos modos gregos

Note como as sequĂȘncias (tom-semitom, etc,) ficaram exatamente iguais Ă s sequĂȘncias de nosso estudo que utilizou a escala de DĂł maior. JĂĄ os desenhos (shapes) ficaram diferentes pelo fato de estarmos começando da 6ÂȘ corda em vez da 5ÂȘ.

Esses desenhos apresentados partindo da 5ÂȘ e 6ÂȘ cordas mantĂȘm a mesma estrutura para outras tonalidades. Isso Ă© muito favorĂĄvel, pois aprendendo os shapes para essas tonalidades, vocĂȘ sabe para todas, basta transpor os mesmos desenhos para outros tons.
Ao longo de nosso estudo musical, vocĂȘ irĂĄ ouvir falar mais vezes nesses modos. Vendo a aplicação deles em diferentes contextos vocĂȘ irĂĄ ampliar sua visĂŁo e ficarĂĄ cada vez mais convencido da utilidade deles. O importante Ă© que agora vocĂȘ os pratique e gaste um tempo em cima desses desenhos, compreendendo de onde eles vieram.

1.500 palavras depois…

Antes de finalizarmos esse nosso primeiro estudo de modos gregos, vamos matar sua curiosidade dizendo de onde vieram esses nomes estranhos.

Os modos gregos surgiram da GrĂ©cia antiga. Alguns povos da regiĂŁo tinham maneiras peculiares de organizar os sons da escala temperada ocidental. Esses povos eram oriundos das regiĂ”es JĂłnia, DĂłria, Frigia, LĂ­dia e EĂłlia. Por isso deram origem aos nomes que vocĂȘ acabou de ver. O modo MixolĂ­dio surgiu da mistura dos modos LĂ­dio e DĂłrico. O modo LĂłcrio surgiu apenas para completar o ciclo, pois Ă© um modo pouco utilizado na prĂĄtica.

Os modos JĂŽnico e EĂłlico acabaram sendo os mais utilizados, sendo muito difundidos na Idade MĂ©dia. Mais tarde, acabaram recebendo os nomes “escala maior” e “escala menor” respectivamente. Engraçado que todo estudante de mĂșsica acaba aprendendo primeiro os nomes “escala maior” e “escala menor”, antes mesmo de ouvir falar em modo jĂŽnico e eĂłlico, sendo que os modos gregos vieram antes disso e sĂŁo os pais dessas escalas.

Se vocĂȘ gostou da explicação desse tĂłpico, ajude a divulgar o Descomplicando a MĂșsica para que possamos continuar crescendo e aprimorando os conteĂșdos, promovendo tambĂ©m interação com o pĂșblico!

Preparamos um curso que explora bastante a utilização dos modos gregos na guitarra, conheça clicando na imagem abaixo:

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